A temporada de pipas que começa em julho e segue no mês de agosto é também época em que as aves mais sofrem em Campo Grande. Isso porque nem todos querem brincar de forma saudável e utilizam cerol nas linhas, deixando-as extremamente cortantes.

Com isso, cresce o número de aves, principalmente Araras-Canindé, que são vítimas desse material cortante. Para muitas, o ferimento é fatal. Já as sobreviventes são consideradas ecologicamente sacrificadas, pois dificilmente conseguem retornar à natureza.

É o que explica o médico veterinário e responsável técnico pelo Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), Lucas Cazati. “Por mais que sobrevivam, não conseguem mais voar. Esse é o maior pecado, pois está limitando a espécie”, explicou.

A maioria dos animais que chegam ao Cras estão com ferimentos mais graves e por isso é tão difícil a reabilitação total. “Com sorte chegam com vida. Eles passam por cirurgia, mas a maioria chega com laceração, algumas chegam sem asa e outras vêm com fratura”, detalhou Lucas.

Por não conseguirem ser reinseridos em seu habitat, o destino dessas aves são os zoológicos.

Se você encontrou uma ave ferida, o médico veterinário orienta a evitar encostar no animal. “A recomendação é ligar imediatamente para a PMA [Polícia Militar Ambiental] e aguardar, pois pode ter uma hemorragia. É igual a uma pessoa que cai de moto, por exemplo. Tem que ligar para o socorro e aguardar”, explicou.

Na semana passada, um homem resgatou uma arara que estava ferida por linha de cerol e estava caída na Avenida Ernesto Geisel. Ele retirou o animal e levou até a casa da irmã para esperar a chegada da PMA.

Nesse caso, para evitar um acidente ou que o animal seja atropelado, o veterinário orienta apenas que a ave seja retirada da avenida e colocada em um local seguro como a calçada, por exemplo.

Linhas clandestinas
Soltar pipas com cerol é crime previsto em lei e quem o comete também pode ser enquadrado no artigo 132 do Código Penal, que configura expor a vida ou a saúde dos outros a perigos.

Há também um crime previsto aos pais de crianças e adolescentes que deixam os filhos manusear o cerol, o que consiste em permitir que menores utilizem substâncias perigosas e podem ser responsabilizados a pagar multa no valor de três a 20 salários mínimos.