O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender neste sábado (18) a retomada das atividades normais de trabalho no Brasil mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus, que já deixou mais de 2 mil mortos no país, e tratou o contágio da maioria da população como algo inevitável.

"O vírus, 70% vai ser contaminado. Não adianta... Se não for hoje, é semana que vem ou mês que vem. É uma realidade. Devemos é cuidar dos mais idosos e daqueles que têm problemas de saúde. Os demais, logicamente, tenham cuidado também, mas [têm que] saber que têm que trabalhar", disse Bolsonaro durante conversa com apoiadores ao pé da rampa do Palácio do Planalto, em Brasília.

Acompanhado de seguranças e do deputado federal Hélio Negão (PSL-RJ), Bolsonaro não estava de máscara quando desceu a rampa para falar com os apoiadores. As pessoas que estavam diante do palácio também não estavam de máscara e não respeitaram orientações de evitar aglomeração. 

O presidente lembrou que o Brasil tem milhões de trabalhadores informais e disse que, sem a retomada do trabalho, "o país não vai para frente" e "vai complicar a vida de muita gente”. Bolsonaro voltou a dizer que "vai faltar dinheiro para pagar os servidores públicos" e chegou a afirmar que “o Brasil está mergulhando em um caos”.

Bolsonaro repetiu, como vem fazendo nos últimos dias, que a abertura dos comércios e a volta à “normalização” não dependem do presidente. O STF tomou decisões recentes garantindo esta autoridade a prefeitos e governadores, mas Bolsonaro vem falando há semanas em um decreto ou projeto de lei para ampliar o número de atividades essenciais.

“Quem decide a questão de fechamento [do comércio e serviços] são os prefeitos e governadores de estado. Está nas mãos deles começar a partir para a normalidade”, disse. 

Ao fim das declarações aos apoiadores, o presidente recebeu um quadro com a imagem de Jesus Cristo entregue por um grupo composto por religiosos contrários ao aborto. Eles se manifestavam contra o julgamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF (Supremo Tribunal Federal) que autoriza o aborto para gestantes com o zika vírus. O grupo realizou uma carreata na Esplanada dos Ministérios.

A agenda oficial de Bolsonaro não previa compromissos oficiais neste sábado. Questionada, a assessoria do Planalto afirmou que a saída do presidente se tratava de "questões internas".

MP deve ser votada 2ª, diz Bolsonaro

Bolsonaro afirmou também que a medida provisória que institui o chamado "contrato verde amarelo" deve ser votada na segunda-feira (20) pelo Senado. "Deve ser votada segunda-feira. Tenho nada contra o Davi (Alcolumbre, presidente do Senado). Davi é meu chapa", respondeu após ser perguntado se teria feito um acordo com o presidente da Casa.

sexta (17), o Senado decidiu não votar a MP, que reduz impostos às empresas na contratação de jovens de 18 a 29 anos e pessoas acima de 55 anos. O texto perderá a validade se não for aprovado pelos senadores até segunda-feira. 

A retirada do item da pauta foi entendida como uma retaliação às críticas de Bolsonaro à atuação do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na quinta (17), Bolsonaro disse à CNN que Maia "está conduzindo o Brasil para o caos" ao falar dos valores que estão sendo autorizados para conter os impactos da pandemia. 

Também à CNN, Maia respondeu que o presidente tentava mudar de assunto após demitir Luiz Henrique Mandetta (DEM) do Ministério da Saúde e que não responderia Bolsonaro "no nível que ele quer que eu responda". "O presidente não vai ter de mim ataques. Ele nos joga pedras, o Parlamento vai jogar flores ao governo federal", disse o deputado.

O presidente destacou a aprovação pela Câmara do socorro para Estados e municípios no valor de R$ 89,6 bilhões. Bolsonaro disse que, pelo texto, o governo deve recompor as perdas de ISS e ICMS provocadas pela pandemia. "Quer que o contribuinte pague a conta?", questionou.

O presidente disse não saber ao total das perdas de arrecadação de Estados e municípios de ICMS e ISS, impostos mais impactados pelo isolamento, mas fez uma estimativa do rombo.

"Não sabemos quanto vai chegar a conta do ICMS e ISS. Estamos calculando muito acima, muito acima de R$ 100 bilhões. Não tem espaço para isso no Orçamento. Não é 'que se vire o chefe do Executivo'... se aqui nós quebrarmos, quebra o Brasil", afirmou.

O governo trabalha para que o Senado vote um outro projeto no lugar do enviado pela Câmara para ajudar os entes federativos. A ideia seria oferecer uma ajuda, sem passar pela compensação da perda de arrecadação dos tributos.

Senadores analisam as possibilidade, mas por ora, encaram a proposta dos deputados mais vantajosas aos Estados, que agonizam para fechar as contas e preveem ainda mais gastos diante da crise do coronavírus.