Uma mulher de 26 anos, grávida de 8 meses, é investigada pela morte do pai e do irmão de uma suposta amante do marido dela, em Terra Nova do Norte (MT), no sábado (22). Bruna Felsk se apresentou à delegacia de Colíder ontem e, segundo a polícia, confessou o duplo homicídio. Ela alegou legítima defesa e foi liberada para acompanhar as investigações em liberdade. O UOL teve acesso ao depoimento da mulher. Segundo o delegado José Getúlio Daniel, responsável pelo inquérito, Bruna contou que teria ido à casa das vítimas, acompanhada da mãe, para conversar sobre o suposto caso.

Conforme o boletim de ocorrência, vários moradores estavam nas proximidades da residência das vítimas, pois a pequena comunidade da zona rural do município estava reunida para fazer uma colheita de pequi. Bruna, acompanhada da mãe, se dirigiu à casa onde viviam as vítimas e a suposta amante do marido dela — onde teria chegado alterada e começado uma discussão, que chamou a atenção de pessoas próximas. Segundo o relato, após o início da briga, várias pessoas se dirigiram à residência, incluindo o marido de Bruna, enquanto o pai dela seguiu até a residência em uma caminhonete para convencê-la a ir embora. No entanto, a mulher teria aproveitado para ir até o veículo, pegado uma pistola calibre .380 no veículo e disparado contra o irmão e o pai da mulher que ela julgava ser amante de seu marido. Marcelo de Barros, 37, foi o primeiro a ser atingido. Ele foi baleado com três tiros, no peito e no abdômen. O pai dele, Genuir de Barros, 67, tentou defendê-lo e também foi ferido, com dois disparos no peito. Em seguida, o marido de Bruna a desarmou. Ainda segundo o boletim de ocorrência, Bruna e a mãe agrediram a suposta amante com puxões de cabelo. O pai da gestante ainda teria ajudado nas agressões, antes de fugir do local com a família em uma S10.

Conforme o delegado, Genuir teve a morte constatada ainda na casa onde morava. O marido de Bruna ainda tentou socorrer Marcelo, que foi levado com vida para o Hospital Municipal, mas não resistiu aos ferimentos. Da unidade de saúde, o homem fugiu e ainda não foi localizado. Segundo o advogado de Bruna, Sílvio Eduardo Polidorio, foram a jovem e a mãe dela que teriam sido agredidas durante a visita.

"Ela [Bruna] está bastante machucada. Apanhou da mãe e do irmão da amante do marido. Tudo foi uma infelicidade, nada premeditado, como alguns meios de comunicação estão divulgando por aí. Toda a investigação está bem no início, mas acreditamos que, com os esclarecimentos prestados hoje, a verdade começa a aparecer". Ainda de acordo com Polidorio, o marido de Bruna deve se apresentar na delegacia amanhã.

A investigação ainda deve apurar as participações de cada membro das duas famílias e decidir por indiciamento pelas agressões e ameaças, mas ainda não há definições no caso por parte da polícia, que segue ouvindo as partes e testemunhas.

Marcelo de Barros e Genuir de Barros foram mortos a tiros na zona rural de Terra Nova do Norte (MT)

Caso antigo Em depoimento, Bruna contou ao delegado que começou a morar junto com o marido em maio do ano passado e a gestante contou que eles tinham uma boa relação. Segundo o delegado, três meses após descobrir a gestação, que era de risco, Bruna decidiu conversar com o marido para saber se estava tudo bem. Ele afirmou que os dois não estavam com nenhum problema.

Porém, em setembro deste ano, ela decidiu mexer no celular do marido enquanto ele dormia e encontrou mensagens que a convenceram de que estava sendo traída. Bruna, então, acordou o marido e disse que "já sabia de tudo". Ele não negou o caso extraconjugal e ela decidiu passar um tempo na casa da mãe, mas ressaltou ao delegado que os dois mantinham contato diário. Alguns dias depois, Bruna voltou para casa e, no começo do mês, viu novas mensagens entre o marido e a amante.

Ela afirmou que printou as mensagens e mandou para ele, que pediu para que os dois não se separassem e disse que amava Bruna. O casal, então, decidiu "passar uma borracha e seguir a vida". A gestante contou que chegou a conversar com a mulher pelo Instagram, mas as duas discutiram. A jovem pediu ajuda para a mãe da amante do marido, mas afirmou que ela "não deu atenção".

No sábado (22), ela pediu dinheiro ao marido para fazer a sobrancelha e ir à farmácia. Para chegar ao centro da cidade, a gestante disse que precisava passar pela casa da mulher. Junto da mãe, ela decidiu parar na residência e conversar com o pai da amante sobre o caso dos dois. Logo em seguida, a mãe da mulher também teria se envolvido na situação, e a confusão foi instaurada até o momento do crime.

Testemunha explica por que suspeita alegou "legítima defesa" Um familiar de Bruna, que prefere não se identificar, disse ao UOL que o marido dela escolheu não agir para defender a esposa. "O marido da Bruna estava lá no local, só que como ele tinha um caso com a outra, não fez nada na hora para defender a esposa. Deixou acontecer tudo que aconteceu e não fez nada. Infelizmente, nossa família está destruída. A família mora aqui há 31 anos. A Bruna foi defender o pai quando atirou no Marcelo", explicou.

Ele disse que, desde o dia do crime, Bruna e os pais estão "dopados", pois precisam fazer uso de calmantes, além de a gestante ter perdido líquido. Para ele, as famílias não têm culpa da situação. "Ninguém tem culpa, a culpa é da amante e do cara. A família não tem culpa. Infelizmente, aconteceu tudo isso. Ela é a vítima, as duas famílias são. Errado foram os dois: ele que era casado e a mulher que sabia que ele era casado". A testemunha conta ainda como o pai de Bruna teria entrado na briga armado com um facão.

"Tinha um facão no carro que o pai dela usa para pescar. Ele pegou e bateu na bunda da mulher [a amante]. Ela pulou em cima da Bruna, jogou ela no chão, enforcou e começou a pisar na barriga dela. A mãe da amante foi dar uma paulada na cabeça da Bruna e a mãe de Bruna colocou a mão, [e agora] está com suspeita de fratura e vai passar por corpo de delito".