O comando de campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou em nova ebulição. O motivo desta vez é a revelação pela "Folha de S.Paulo" de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, prepara um pacote para ser apresentado logo após as eleições, se Bolsonaro sair vitorioso.
Entre os principais pontos da proposta está desatrelar o reajuste do salário-mínimo da inflação passada, e acabar com sua vinculação às aposentadorias. Na prática, as medidas significam arrocho nos salários e nos pagamentos dos pensionistas.
Essas e outras medidas visariam cobrir o rombo nas contas públicas causado pelos gastos pré-eleitorais do governo e pelo rompimento do teto do Orçamento. A área política do governo e o comando da campanha pressionaram o presidente e conseguiram que Bolsonaro cobrasse do ministro que desmentisse a notícia.
O Ministério da Economia acabou divulgando nota tentando desmentir a informação. A nota afirma que o salário mínimo continuará sendo reajustado de acordo com a inflação. Não diz, no entanto, que a ideia do governo é vincular o reajuste a uma expectativa de inflação futura, desvinculando da passada.
O ministro defendeu o tal "Plano 3D", que significaria "desvincular, desindexar e desobrigar" o Tesouro de gastos previstos na Constituição. De fato, Bolsonaro e a área política do governo têm simpatia por essas propostas. E estão discutindo internamente, pois concordam com a área econômica de que o presidente, se vencer a eleição, terá que soltar um pacote de ajustes após o fechamento das urnas.
Mas há dúvidas quanto à possibilidade de aprovar uma tal "PEC 3D" antes da eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, que precisarão contar com votos além da base governista. De qualquer maneira, a coordenação da campanha e os articuladores políticos do governo ficaram irritadíssimos. Atribuem a Guedes o vazamento de seus planos, o que consideram "uma potencial bomba" na campanha eleitoral, capaz de tirar votos pela reeleição do presidente às vésperas da votação.
O que circula na campanha é que Guedes se antecipou para tentar garantir que seu plano será implementado. Agora o objetivo é convencer o presidente Bolsonaro a desautorizar publicamente o seu ministro, a quem havia garantido permanecer no governo caso seja reeleito. Bastou Bolsonaro se aproximar de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas eleitorais e a guerra por espaços num hipotético segundo mandato já começou.