Pelo menos 56 das 359 mortes decorrentes do novo coronavírus no Brasil se referem a pessoas com menos de 60 anos, mostra levantamento feito nesta sexta-feira (3) pela CNN com base em dados de secretarias estaduais e municipais de saúde pelo Brasil. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que a idade de risco para maior mortalidade pela COVID-19 é de 60 anos em diante.
O número do levantamento é maior do que os 44 mortos abaixo de 60 anos divulgados pelo Ministério da Saúde porque as secretarias fornecem mais dados sobre o perfil das vítimas da COVID-19.
Dados de estudos feitos na China e na Itália, onde a testagem para o vírus foi ampliada para grupos populacionais mais amplos, notou uma mortalidade de 0,2% em média para os jovens infectados com o coronavírus. Isso significa que um a cada 500 jovens que se infectaram com a doença têm piora no quadro e morrem. Essa mesma análise não é possível de ser feita no Brasil, já que aqui a testagem ainda não abrange grupos populacionais maiores.
Aos 26 anos, o advogado Maurício Suzuki não resistiu e morreu depois de pegar o coronavírus. Ele participava de corridas de rua e frequentava a academia. Orgulho da família, Maurício era muito próximo da prima, Letícia. Pela primeira vez, para a CNN, a família aceitou falar sobre a turbulência causada em todos eles pelo coronavírus.
"Temos que pensar, sim, que não são apenas os grupos de risco, porque nós trazemos esse vírus para dentro da nossa própria casa. Independentemente do cuidado que o Maurício teve, os meus tios estão com o COVID-19 e estão internados agora. Eu digo porque a história dele não pode ter sido em vão, tudo que nós fizermos antes do vírus entrar na nossa vida vai poder ser chamado de proteção, chamado de cuidado. Pode até ser chamado de exagero por alguns, mas nada vai trazer as vidas que foram perdidas", disse Letícia.
Jovem de 23 anos foi vítima
Um dos mais jovens a morrer no Brasil foi Matheus Acioli, de 23 anos. Ele morava em Natal, no Rio Grande do Norte, e tinha excesso de peso -- o que aumenta o risco. O jovem fazia bolos e tinha o sonho de se tornar um grande chef de cozinha.
Nesta sexta-feira (3), o Ministério da Saúde apresentou uma morte na faixa etária de 6 a 19 anos, mas não deu detalhes sobre o caso.
Crianças e bebês
Em Boa Vista, capital de Roraima, dois bebês estão infectados com a doença. Um deles é filho de um enfermeiro da rede pública de saúde. Há ainda uma criança de dois anos com COVID-19.
Em Pernambuco, entre os 30 novos casos confirmados nesta sexta, há um bebê de 1 mês de idade. O menino teve sintomas de gripe e foi levado ao hospital na segunda-feira (30). Ele foi transferido nesta manhã para o Hospital Universitário Oswaldo Cruz, já com bom estado de saúde. A mãe do menino não apresenta sintomas e o pai está em isolamento domiciliar.
Em Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre, outro bebê de apenas um mês de idade foi infectado com a doença. A prefeitura confirmou a informação na quinta-feira (2).
Ex-atleta foi internado
Mesmo com histórico de atleta, o ortopedista Vitor Luis Pereira ficou sete dias internado com coronavírus. cinco deles na UTI. Os pulmões ficaram comprometidos pelo coronavírus. Ele tem 30 anos e foi atleta federado, praticava lançamento de disco. Hoje, faz musculação e levantamento de peso. Nem mesmo a vida saudável impediu que a situação ficasse tão grave.
"Acho que o grande recado é que a gente não tem como saber quem vai desenvolver o quadro mais grave. Então todo mundo tem que ficar em casa, todo mundo tem que seguir as orientações do Ministério da Saúde, dos especialistas da OMS, para que a gente juntos possa controlar a doença e evitar maiores perdas. Espero que minha experiência possa ajudar a conscientizar a galera de que não é só uma doença simples ou uma 'gripezinha', que vai acometer a gente", diz Vitor.
Para o infectologista Luis Fernando Waib, os exemplos de Vitor, Maurício e Matheus passam uma mensagem importante.
"É uma proporção pequena se você estiver falando de 5 mil pessoas acometidas, ou 10 mil. A hora em que você fala de 100 mil jovens, nós estamos falando de 200 mortos nessa faixa de idade. Se você fala de 1 milhão de jovens acometidos, então nós estamos falando de 2 mil jovens mortos. A depender de quantos jovens eu tiver acometidos por coronavírus, eu vou ter na mesma proporção o risco de jovens com doença grave, indo a óbito", alerta o médico.