O preço da carne pode ficar nas alturas por anos, estimam especialistas. Em alguns supermercados e açougues do pais houve aumento de mais de 30% em um mês em alguns cortes, como picanha e alcatra, bem acima da média de 6,78% de alta da carne vermelha no ano pelo IPCA-15 e da inflação, abaixo de 3%, alguns produtos sofreram alta de até 50%.
A alta da carne se deve a uma combinação de fatores. O principal é o aumento das exportações brasileiras para a China, cujos rebanhos de porcos foram reduzidos à metade pela febre suína africana. Com menos proteína suína, os chineses passaram a importar mais esse tipo de carne e também outras, como a bovina e de aves.
De janeiro a outubro deste ano o Estado exportou aproximadamente 4,5 mil toneladas de carne bovina congelada, fresca ou refrigerada. O equivalente a quase US$ 17,6 milhões. Os dados de novembro ainda não foram divulgados pelo Ministério da Economia.
Esse fluxo vem aumentando junto com o preço do dólar comercial que já está cotado em R$ 4,24. Essa valorização do dólar tornou mais vantajoso para os produtores exportar do que vender ao mercado interno.
O presidente da Federação da Agricultura (Faes), Júlio Rocha, afirma que o preço da carne bovina deve sofrer uma queda, mas apenas depois do verão. Porém, ainda avalia que mesmo assim ele não deve voltar ao patamar do início do ano. “Os preços da pecuária estão congelados há quase três anos, com isso muitos produtores reduziram seus rebanhos, já que o custo de produção crescia, mas a remuneração deles não”, aponta.
De acordo com os dados do Cepea, entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018, a cotação da arroba bovina na B3 subiu apenas 3%, percentual bem diferente do acumulado de 2019 (55,2%).
MÊS DE ALTAS
O mês de novembro também coincidiu com o aumento da demanda da Ásia. A venda de carne bovina do Brasil para o continente vem crescendo devido ao surto de peste suína africana. Devido a doença, o mercado,principalmente da China e da Arábia Saudita, ficou desabastecido e as indústrias brasileiras viram ali uma oportunidade de ter melhores preços.
Em novembro, o Brasil habilitou mais 13 frigoríficos para exportar para a China (cinco de produção de carne bovina e três de aves), além de oito de carne bovina e produtos derivados para a Arábia Saudita, aumentando assim a exportação da proteína.
O presidente do Sindicato da Indústria do Frio do Estado do Espírito Santo (Sindifrio), Evaldo Lievore, explica que cada país tem um costume de compras diferente. “Israel só compra a parte dianteira do boi, já a China leva quase todos os cortes bovinos. O corte que cada país vai levar depende do contrato, da cultura dele e do seu nível econômico. No momento não está faltando cortes no mercado capixaba e ele está abastecido”, comenta.
TROCA PELA CARNE BOVINA
A escalada de preços do quilo da carne de boi está fazendo com que muita gente troque a proteína bovina, pela suína, por exemplo. Por chegar a custar, às vezes, menos de um terço do quilo da carne suína. Segundo dados do Cepea, em janeiro deste ano, o quilo do suíno custava R$ 3,09 (RS). Em novembro, chegou a R$ 5,07.
Segundo o Evaldo, quando a carne bovina sobe, a suína, as aves e peixes acompanham a tendência de alta. Isso ocorre porque há uma migração de consumo. Se aumenta a procura por um determinado tipo de mercadoria e a produção continua a mesma, logo o preço vai aumentar.
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